Leitura e posição de conjuntura internacional 01
No sábado, 07 de outubro de 2023, o mundo assistiu à ofensiva liderada pelo Hamas, que contou com a participação de todas as forças político-militares palestinas, rompendo o cerco do maior campo de concentração do planeta. A Faixa de Gaza, rodeada por tanques e franco-atiradores, com água contaminada e serviço de luz com duração inferior a três horas por dia, na prática é uma prisão sionista a céu aberto. Na Cisjordânia, a média de palestinos assassinados pelo invasor israelense é de 30 pessoas por mês. Todos os dias, crianças são presas, mulheres espancadas, jovens e adultos mortos, casas palestinas são demolidas e um povo inteiro vive sob a tirania de Israel, sendo julgado em tribunais de exceção. BASTA!
Assim como em abril e maio de 2021 com a Operação Espada de Jerusalém (Al Quds), todas as expressões organizadas do povo palestino e das forças árabes da resistência atuaram em conjunto, demonstrando que o inimigo europeu não é indestrutível e nem poderá manter mais de 6 milhões de pessoas como cidadãos de segunda categoria, seja no Apartheid dos Territórios Ocupados em 1967, seja no campo de concentração de Gaza (sob cerco desde 2007), ou como párias em sua própria terra (como nos Territórios Ocupados em 1948, conhecido como Israel). É preciso lembrar: a invenção do sionismo veio da Europa e a formação deste Estado colonial foi fruto da maior limpeza étnica da história, com a expulsão de mais de 800 mil pessoas de suas terras ancestrais, lugares, casas e vilas onde viviam há mais de 3.000 anos. Dentre os crimes do sionismo estão os milhões de refugiados palestinos, criados em campos, expulsos de suas casas para cederem lugar a invasores europeus.
O Estado Sionista ocupa território da Palestina, na Síria e no Líbano. Bombardeia a infraestrutura síria todos os meses há pelo menos dez anos consecutivos. O povo palestino aprendeu que a única linguagem que o Estado invasor entende é a resistência e é através dela que sobrevive e vai alcançar seu caminho de libertação. Somos anti-imperialistas e não podemos aceitar que um Estado viva da ajuda militar dos Estados Unidos (mais de US$ 5 bilhões liberados em apenas 24 horas) e ameace demais países com ataque nuclear – a eterna ameaça desde 1973. Não há nenhum respeito pelo Direito Internacional por parte de Tel Aviv e as entidades sionistas do planeta estão comprometidas com a manutenção do Apartheid e a ocupação dos territórios palestinos.
Como anarquistas sabemos que certos modelos societários no Oriente Médio estão muito distantes daquilo que idealizamos. Ao mesmo tempo, a libertação e a luta dos povos é realizada com as instituições sociais que os próprios povos criam na realidade concreta, e estão longe das idealizações dos observadores externos. Defendemos a justa e legítima resistência palestina contra a agressiva dominação, limpeza étnica e violência do Estado de Israel, mas no horizonte de curto e médio/longo prazo, também criticamos quaisquer formas de integrismo islâmico (como o que orienta a organização Hamas) e métodos que atentem contra a unidade dos povos.
É importante recordar que a origem da resistência Palestina está na greve geral de 1936 contra a ocupação britânica e seus aliados colonialistas sionistas. A Organização pela Libertação da Palestina (OLP) nasce na década de 1950 e é composta por partidos laicos com alguns setores mais à esquerda. Entendemos, portanto, o papel histórico que o pan-arabismo pode cumprir nesse contexto e em especial sua versão socialista. Do mesmo modo, necessitamos recordar e fortalecer a histórica tradição da esquerda judaica (parte dela fruto da influência do anarquismo) nos territórios israelenses e fora deles, como parte de uma luta multiétnica e anti-imperialista. Reforçamos que essa tradição é totalmente incompatível com o sionismo, a despeito das tentativas do sionismo em tornar o apartheid social e territorial na Palestina, como "aceitáveis".
Conclamamos companheiras e companheiros de fé judaica a se proclamarem abertamente ANTISSIONISTAS e juntarem esforços nessa luta anti-imperialista. Também conclamamos aos mais de 16 milhões de brasileiros descendentes de árabes a se posicionarem ao lado da luta de libertação de parte de sua terra original, deixando de fazer vista grossa ou de fingir não entender o que está acontecendo.
O inimigo sionista está dentro do Brasil, estava na espinha dorsal do governo fascista de Bolsonaro, é a ideologia que fundamenta o autoritarismo neopentecostal e opera nas entranhas dos aparelhos de espionagem e segurança brasileiros. Libertar a Palestina é o dever do povo palestino. Exercer a solidariedade ao povo palestino é o dever de todas as correntes socialistas em direção à construção de uma sociedade socialista, democrática, autodeterminada e com autogoverno.
Toda solidariedade à Palestina!
OSL, 08 de outubro de 2023