No 20 de Novembro, reforçamos a importância da luta negra para a construção revolucionária no Brasil. A data escolhida para memorar a resistência negra não é casual: faz referência ao momento em que Zumbi dos Palmares teria sido capturado e morto por bandeirantes a partir de ordens da colonização portuguesa. Zumbi comandou o Quilombo dos Palmares (que durou de 1580 até 1710, na região onde hoje é Alagoas), uma das maiores expressões rebeldes em território brasileiro, sendo um dos marcos da luta de libertação negra contra o colonialismo e a escravidão. Também teve grande protagonismo a guerreira Dandara, companheira de Zumbi, que lutou até a morte pela liberdade. Trazer essa memória como um dia de resistência é fundamental num cenário de ascensão das discussões raciais e também de leituras que afastam o caráter radical de Palmares e de toda a luta negra.
Os quilombos não foram um fenômeno isolado, floresceram desde o século XVI até o século XIX, no campo e nas cidades, como uma prática de resistência coletiva. Foram também expressões de solidariedade, com a resistência conjunta entre negros que lutavam contra a escravidão e povos indígenas, oprimidos pelos colonizadores. Praticamente não houve região de nosso território que não registrasse a formação de pequenos, médios ou grandes quilombos - com sua própria economia, autodefesa e organização social. Apenas em Minas Gerais foram mais de cem quilombos durante o período colonial. Em Mato Grosso, uma importante referência é o Quilombo do Quariterê, com a liderança de Tereza de Benguela. Quilombos se espalharam pelas regiões de Pernambuco, Bahia, Maranhão, Pará, Rio de Janeiro, São Paulo e Rio Grande do Sul. No território amazônico, quilombolas chegaram a atravessar as fronteiras do país e se encontraram com quilombolas de outras regiões sul-americanas.
Os séculos de escravidão deixaram marcas profundas na estrutura de toda a sociedade. Ainda que a escravidão tenha sido formalmente extinta em 1888 depois de muita luta, o povo negro ainda sofre com as condições mais precárias de trabalho e de vida. O racismo se manifesta de diveras maneiras: economicamente, politicamente, culturalmente e até geograficamente, com grande parte da população negra vivendo nas periferias, favelas e regiões com menos estrutura.
A questão étnico-racial é inseparável da classe social
O sistema racial que se estabeleceu no Brasil e no mundo, nos últimos séculos, é inseparável do nascimento da ordem capitalista. O colonialismo europeu nas Américas e, séculos depois, a invasão e a "conquista" da África e da Ásia foram fatores centrais para o acúmulo de riqueza nas mãos das classes dominantes. A Revolução Haitiana, protagonizada pela população escravizada contra seus senhores brancos, foi uma inspiração para a luta antirracista e anticolonial em todo o globo, e não por acaso as potências se uniram para esmagar a independência do Haiti e tornar o país vítima da ordem globalizada capitalista.
Em diversos países do mundo, como os Estados Unidos e a França, tentou-se dissociar a luta antirracista da luta de classes, ao buscar transformar a questão étnico-racial em um debate exclusivamente simbólico e cultural. As revoltas mais recentes contra a violência policial e a segregação nesses países revelam os limites dessa estratégia.
No Brasil e no mundo, o capitalismo se apropria da discriminação étnica e racial para separar a classe trabalhadora, produzindo e reproduzindo um setor mais precarizado e mais marginalizado para ser submetido aos trabalhos mais brutais e degradantes. No Brasil, a população negra – assim como a população indígena – é a carne mais barata do mercado, a mais marginalizada e criminalizada pela sociedade e a mais marcada pelo Estado.
Resgatando o histórico de resistência da população negra, e de todo o conjunto antirracista da classe trabalhadora, defendemos a necessidade de uma revolução anticapitalista, antipatriarcal, antirracista e anti-imperialista como o único meio para colocar fim no sistema racial e genocida.
Nos inspirando nas lutas dos povos oprimidos de todo o mundo – como as lutas palestina, curda e zapatista –, reivindicamos o 20 de Novembro como uma data revolucionária!
Viva a memória de Zumbi e Dandara!
Viva a luta do povo negro!
Pela Revolução Social e o Socialismo Libertário!
OSL, 20 de Novembro de 2023