Nos dias 18 e 19, o chamado G20 - grupo de 19 países mais influentes do mundo, mais a União Europeia e a União Africana - se reúne no Rio de Janeiro, já que o Brasil possui a presidência rotativa do grupo neste ano. Considerado um fórum das principais economias globais, o G20 se apresenta como um espaço para discutir os rumos econômicos mundiais.
Na prática, porém, o encontro reúne líderes de nações imperialistas, empenhados em preservar (e fortalecer) a aliança entre Estados nacionais e o grande capital, que sustenta uma estrutura política voltada para os interesses das classes dominantes, enquanto as demandas reais do povo trabalhador são, obviamente, deixadas de lado. Longe de chegar a uma solução para os grandes problemas do mundo, o encontro é mais uma engrenagem na estrutura política global que beneficia as elites e aprofunda a exploração das classes oprimidas.
O G20, embora seja uma organização "extraoficial", atua há anos em conjunto com o G7, o FMI e o Banco Mundial, instrumentos do capitalismo mundial que impõem políticas de austeridade fiscal e privatizações que afetam diretamente as populações mais vulneráveis. Criado no final dos anos 90, durante uma crise econômica que se expandiu por várias regiões do planeta, o G20 foi uma iniciativa dos países centrais do capitalismo para envolver outras nações na tentativa de salvar o sistema capitalista-estatista das crises geradas por essas próprias grandes potências. Desde então, tornou-se um espaço de consolidação do neoliberalismo, onde líderes de Estado defendem um sistema vantajoso para as potências imperialistas enquanto para a periferia do sistema impõem seu receituário de austeridade fiscal. Nesse jogo, os chefes de Estado são os verdadeiros representantes dos grandes interesses capitalistas. Neste momento, o encontro também se dá em meio à ampliação do BRICS, liderado por China e Rússia, com um modelo próprio de globalização que ameaça a hegemonia e EUA e União Europeia.
O evento se torna um espetáculo em que temas cruciais – como a emergência climática, a fome e a pobreza, e o respeito à diversidade dos povos – são utilizados como retórica, enquanto os interesses das grandes empresas transnacionais se impõem na busca por dominação e lucro.
O governo brasileiro frente a esse contexto
A realização do evento no Brasil ocorre em um cenário de crise global, marcado pelo avanço da extrema direita, da guerra entre Rússia e Ucrânia e do massacre promovido por Israel contra o povo palestino, além de tragédias climáticas. Contudo, ao sediar a cúpula, fica claro que o governo brasileiro se alia ao interesses dos responsáveis por tal cenário, legitimando um evento que atende aos interesses das grandes potências.
O governo brasileiro coloca no papel como prioridade “o combate à fome, à pobreza e à desigualdade, as três dimensões do desenvolvimento sustentável (econômica, social e ambiental), e a reforma da governança global”. Porém, na realidade, adere à mesma hipocrisia do grupo, colocando em prática uma política de teto de gastos que perpetua a pobreza e a precarização do trabalho, ao mesmo tempo em que busca projeção na política internacional.
Além de sediar e se colocar como parte de tal grupo já desgastado pela conjuntura internacional, o governo de Lula e Alckmin utiliza sua influência dentro dos movimentos sociais e do aparelho do Estado para abafar qualquer possibilidade de contestação, como é comum ver nesses grandes eventos do capitalismo mundial.
De um lado, para conter protestos, o governo brasileiro decretou a Garantia da Lei e da Ordem (GLO), limitando as manifestações no Rio de Janeiro. De outro, criou o chamado "G20 Social", uma iniciativa inédita para atrair organizações da sociedade civil e debater temas sociais no contexto do G20. No entanto, sabemos que "G20 Social" é mais uma tática para neutralizar e cooptar movimentos sociais, desviando o foco das críticas ao evento principal e impedindo protestos independentes. Além disso, boa parte das entidades participantes, como ONGs e institutos, são financiadas por fundações, empresas e governos de países do centro do sistema capitalista-estatista, que ao final reproduzem o modo de dominação que coloca o mundo à beira do colapso.
Repressão e cooptação dos movimentos sociais
No início do ano, diversas organizações sociais, como a Cúpula dos Povos, MST, CUT, CSP-Conlutas, a Marcha Mundial de Mulheres, movimentos negros e grupos das favelas cariocas se uniram para formar a “Cúpula dos Povos contra o G20”, planejando ações conjuntas. Recentemente, porém, a CUT e o MST (maior central sindical e maior movimento social do país) afastaram-se dessa iniciativa, após uma reunião com o governo federal, que declarou que o presidente Lula não quer manifestações contrárias ao imperialismo e ao G20 no Brasil. Alinhadas ao governo, ambas agora participam do G20 Social como colaboradores, afastando-se ainda mais da independência de classe e das demandas dos trabalhadores, enfraquecendo o movimento de oposição às grandes potências do G20.
As tarefas urgentes para as organizações das classes oprimidas
Em todos os encontros do G20 ao redor do mundo, são organizadas manifestações para denunciar as contradições do sistema capitalista-estatista e a hipocrisia de uma ordem mundial que promove acordos vazios enquanto financia guerras e superexplora trabalhadores e a Natureza na América Latina, na África e na Ásia. Já é esperado que as promessas de ações para frear as mudanças climáticas não se traduzam em medidas concretas, já que o sistema se baseia em uma lógica de produção e consumo ilimitados, insustentável para manter o equilíbrio ecológico.
Diante das crises e da devastação provocadas pela própria ordem capitalista, é urgente construir uma alternativa internacional socialista e revolucionária que pressione os responsáveis por essa realidade. O G20 é apenas um episódio da luta, no entanto, é uma oportunidade importante para construir o debate e a mobilização contra as guerras, em defesa do meio ambiente e pelo fim do sistema capitalista-estatista. Defendemos um modelo de articulação internacional que tenha como orientação a construção do poder popular autogestionário, com ampla participação popular, com internacionalismo que supere as fronteiras impostas pelas elites, e com um anticapitalismo capaz de promover mudanças estruturais verdadeiras que garantam justiça social e ambiental. Um movimento que não coloque a ocupação de cargos estatais ou a prosperidade individual como o maior objetivo da luta das classes oprimidas.
Não há futuro para um planeta realmente saudável numa lógica capitalista de produção e consumo sem limites. Não é possível falar em paz entre os povos numa conjunção política em que o colonialismo e a limpeza étnica são estimulados. É urgente o fortalecimento de um polo internacional que defenda a independência de classe contra os interesses de todos os governos e do capital. O reformismo não é capaz de responder à catástrofe global, à medida que mantém as políticas neoliberais, enquanto o espectro político segue sendo empurrado para a extrema direita.
Infelizmente, a fragmentação da esquerda anticapitalista pulverizou as forças sociais em diferentes protestos contra o G-20, o que enfraquece sua capacidade de intervir nessa realidade. Independentemente disso, nos colocamos na defesa das mobilizações e dos protestos contra a reunião da cúpula do G20 no Rio de Janeiro e contrários à quaisquer participações no teatro do G-20 social!
OSL, 14 de novembro de 2024