Em diversas partes do mundo, o Dia Internacional da Mulher é data para reafirmar a luta das mulheres trabalhadoras pela igualdade e denunciar as condições precárias de vida que seguimos enfrentando há mais de cem anos. Ainda hoje, a violência machista, a sobrecarga de trabalho e as políticas de Estado são especialmente brutais contra as mulheres trabalhadoras; uma intensificação da ideologia patriarcal ajustada para a atual dinâmica do sistema capitalista-estatista.
Violência machista
No Brasil, são muitos os motivos para lutar. No ano passado, foram registrados 1.438 feminicídios no país, o que corresponde a quatro assassinatos de mulheres por dia. Já o Ligue 180 registrou 573 mil denúncias no último ano, sendo 101 mil casos de violência psicológica, mais de 78 mil de violência física e 10,2 mil casos de violência sexual, entre outros. Em grande parte, os denunciados eram pessoas conhecidas das vítimas, como companheiros ou ex-companheiros. Uma realidade que escancara a importância de as mulheres se protegerem coletivamente, mas também a necessidade de os homens reconhecerem a reprodução do machismo e combaterem essas atitudes, seja de si mesmos, seja de pessoas próximas.
Mulheres são mais exploradas
Os dados econômicos também dão a dimensão de como as mulheres trabalhadoras são ainda mais exploradas, de forma estrutural. Mesmo com o crescimento do PIB e da geração de empregos no último ano, as desigualdades entre homens e mulheres pouco se alteraram. Os rendimentos das mulheres são 22% mais baixos que os dos homens, sendo que mulheres negras recebem menos que a metade de homens não-negros, segundo o IBGE. Além disso, em relação às tarefas domésticas, as mulheres gastam o equivalente a 21 dias a mais que os homens, por ano.
A taxa de desemprego entre mulheres negras é 9,3%, mais que o dobro do registrado entre homens não-negros (4,4%). Treze milhões de mulheres não procuram emprego porque têm que cuidar do trabalho doméstico, do cuidado com filhos ou com parentes. Já entre as que estão empregadas, quase 40% ganham um salário mínimo ou menos. Mesmo em cargos mais altos, as mulheres têm salários menores que homens nas mesmas posições.
A precarização do trabalho é outro fator que pesa mais sobre as mulheres, que estão nas ocupações com menores salários e mais invisibilizadas, como na limpeza e no cuidado. As políticas neoliberais contribuem para esse cenário, por meio das terceirizações, da precarização do trabalho e dos cortes nos gastos públicos — como os que vêm sendo postos em prática pelo governo Lula-Alckmin, por meio do Arcabouço Fiscal. Além disso, a escala 6x1 aprofunda a exploração e a opressão sobre milhões de mulheres, que em meio a tantos afazeres e a dupla jornada, não têm tempo suficiente para estudos, lazer e socialização, ou mesmo para fazer luta e se organizar politicamente.
Conservadorismo ataca direitos das mulheres
Outro importante ataque do Patriarcado se dá por meio do fundamentalismo religioso, com as restrições sobre os direitos reprodutivos. Diferentes níveis de governo vêm restringindo direitos, seja no ensino, com o patrulhamento ideológico sobre a educação sexual para crianças e adolescentes, seja nos próprios serviços de saúde, com a burocratização de processos para o aborto legal, ou simplesmente o encerramento do procedimento em hospitais de referência. Ainda há a ofensiva no Congresso Nacional, com a ameaça do PL do Estupro, que equipara ao crime de homicídio o aborto após a 22ª semana de gestação. Com temor de perder popularidade, o governo Lula-Alckmin e sua base no Congresso pouco fazem para conter esses ataques, e rifa direitos fundamentais para manter a relação com lideranças mais conservadoras. Assim, abre caminho para a ascensão da extrema-direita e seu discurso misógino e violento contra as mulheres e minorias sexuais.
A luta é o caminho
Como anarquistas, destacamos a importância do 8 de Março como uma data não apenas para reivindicar políticas, mas para reafirmar a ação direta das mulheres trabalhadoras, que seja independente dos governos e patrões. Não acreditamos que a simples adoção de políticas pontuais, ou a inserção de algumas mulheres entre os de cima vá alcançar a igualdade entre os gêneros, seja no Brasil, seja em qualquer lugar do mundo. É a luta coletiva que poderá arrancar conquistas dos poderosos, e caminhar para a destruição do Patriarcado e do sistema capitalista-estatista.
Há mais de cem anos, mulheres anarquistas e socialistas em geral defenderam a necessidade da luta popular para transformar a estrutura da sociedade e as relações sociais. Muito se avançou em mais de um século, mas não é o bastante. Inspiradas no exemplo dessas revolucionárias, reforçamos o chamado para a organização coletiva, nos espaços de trabalho, de estudo e de moradia. É na luta social que podemos alcançar o mundo que desejamos, sem classes sociais, onde o trabalho seja compartilhado por igual, e que os gêneros sejam apenas formas de estar no mundo, sem relações de opressão!
Viva o 8 de Março!
Viva a Luta das Mulheres!
Organização Socialista Libertária
Março de 2025