Na última segunda-feira, dia 24, o vereador de Campinas Vinícius de Oliveira (MBL/Cidadania) reapareceu na Unicamp para coagir participantes da Virada TransCultural, evento que promove debates sobre as pautas das pessoas trans. Após ser ignorado durante a atividade, o vereador dirigiu-se ao Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH), onde assediou estudantes para produzir conteúdo virtual de teor misógino e transfóbico.
Como de costume, usou a batida tática reacionária de destruir intervenções político-culturais (cartazes e faixas) para provocar e gerar conteúdo para animar sua base nas redes sociais. Estudantes intervieram, questionando as ações do parlamentar, e em resposta o vereador acionou a PM, que enviou três viaturas e uma van da base comunitária, e tentou prender um estudante. Mas a mobilização forçou a retirada do vereador, demonstrando a força da ação coletiva diante dessas conhecidas ações de propaganda.
Histórico de ataques na Unicamp
A presença de Vinícius de Oliveira no IFCH não é um episódio isolado. Desde 2022, ele tem utilizado a universidade como palco para campanhas de ódio e assédio moral, alinhando-se à estratégia do MBL de invadir espaços políticos para impulsionar narrativas reacionárias.
No dia anterior (23), ele já havia gravado conteúdo no IFCH. Durante o Carnaval, outro membro do MBL, Matheus Pereira, utilizou a mesma tática.
A Unicamp tornou-se alvo sistemático desses ataques, especialmente após a implementação das cotas étnico-raciais. Casos de pichações no IFCH e no Instituto de Estudos da Linguagem (IEL), além da infiltração de grupos como Carecas do Brasil e White Power, revelam a escalada reacionária na universidade. Esses grupos agem impunemente há 13 anos, inclusive durante as férias acadêmicas, quando se reuniam na universidade e publicavem fotos nas redes sociais.
O contexto de Campinas também é alarmante. Grupos fascistas da cidade já foram responsáveis por assassinatos de pessoas em situação de rua, LGBT+, mulheres e população negra. Esse cenário reforça o vínculo entre a retórica desses parlamentares e youtubers reacionários e a violência real nas ruas.
A tática dos ataques simbólicos
Os ataques simbólicos são uma estratégia recorrente da extrema-direita. Influenciadores e parlamentares utilizam esses episódios para mobilizar suas bases nas redes sociais, desgastar movimentos sociais e gerar pânico moral no início das discussões antes mesmo que ações concretas de reivindicação se organizem.
É preciso lembrar que, muitas vezes, esse tipo de ação também é explorado de forma oportunista por setores eleitoreiros da esquerda, seja para desviar o foco das lutas diretas contra as reitorias e governos — que são os verdadeiros responsáveis pela precarização da vida estudantil e pelo desmonte das universidades públicas, seja para construir uma narrativa de insegurança, na qual a única resposta posssível é a ação instituicional dirigida por eles próprios.
De qualquer forma, para os movimentos sociais, essas ações representam um ataque aos setores oprimidos, ao mesmo tempo em que animam a base reacionária. Isso tem um efeito direto sobre a sensação de insegurança dos movimentos, o que pode enfraquecer o surgimento de mobilizações mais amplas. Cria-se um sentimento de que se não conseguimos barrar as provocações e fanfarronices desses grupos, também não poderemos enfrentar ataques físicos nas ruas.
No caso da população trans, esses ataques reforçam uma violência estrutural que já se exprime em altos índices de desemprego, exclusão social e assassinatos. Por isso, é urgente que os movimentos se organizem para responder de forma eficaz a essas ameaças.
Organizar e direcionar recursos para a construção da autodefesa popular
A Organização Socialista Libertária repudia esses ataques e solidariza-se com todas as vítimas da extrema-direita. Defendemos a necessidade da organização de comitês de autodefesa popular articulados entre o movimento estudantil, os movimentos populares e a classe trabalhadora, para proteger nossas comunidades e combater a barbárie.
Não podemos terceirizar nossa segurança para as forças do Estado (polícias, judiciário etc.), pois essas instituições servem aos interesses das classes dominantes e frequentemente compactuam com os ataques.
É inadmissível que esses grupos ajam livremente, sem uma resposta à altura. A luta contra o capitalismo, o racismo, a transfobia e o machismo exige mobilização e combatividade, e a construção de uma política de autodefesa, que não só direcione esforços para contribuições teóricas e metodológicas para a defesa em todos os níveis, mas também mobilize recursos para que os debates sejam implementados de fato. A sensação de fragilidade, medo e insegurança da integridade física é um dos grandes responsáveis pelo refluxo e desmobilização da luta e organização popular que vivemos no momento atual.
Organização Socialista Libertária
Março de 2025